O jovem e a primeira experiência de trabalho

O jovem e a primeira experiência de trabalho

Rodrigo Padrini Monteiro e Zoé Margarida Chaves do Vale são autores do artigo científico intitulado “O jovem e a primeira experiência de trabalho”, publicado na Revista Brasileira de Psicodrama, vol. 19, núm. 2, pp. 113-124. O artigo em questão é um trabalho de conclusão da Especialização em Pós-Graduação Lato Sensu em Psicodrama de Rodrigo Monteiro. A produção científica foi orientada por Zoé Vale e apresentada ao Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob Levy Moreno e à Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte, para obtenção do título de psicodramatista.

Por Camilla Carla de Souza* e Carlos Eduardo Carrusca Vieira**

Resumo

Este artigo apresenta um estudo sobre a relação existente entre o jovem e a vivência de sua primeira experiência de trabalho, buscando a compreensão dos fatores envolvidos nesse processo à luz do psicodrama e de outras pesquisas sobre o assunto, além de contribuir para a construção de novos conhecimentos sobre a juventude e a socionomia. A pesquisa- teórica e empírica- busca identificar os sentidos do trabalho para o jovem e as influências da sua primeira experiência na constituição de sua identidade. Foi possível estabelecer conexões entre os resultados obtidos e a teoria psicodramática, apontando para um campo fértil de conhecimento e pesquisa em relação à categoria trabalho na perspectiva da socionomia.

Palavras-chave: Psicodrama; jovem; trabalho; matriz de identidade.

A publicação busca expor, conforme explicitado pelo autor, “a relação existente entre o jovem e a vivência de sua primeira experiência de trabalho, buscando a compreensão dos fatores envolvidos nesse processo à luz do psicodrama e de outras pesquisas sobre o assunto” (MONTEIRO, VALE, 2011, p.113) Através de uma pesquisa empírica, Monteiro e Vale (2011) buscam argumentar o modo como o trabalho compõe a formação da identidade do sujeito com base na teoria de matriz identitária de Moreno, expoente na história do Psicodrama. Como recorte, o texto traz a juventude compreendida entre 16 e 22 anos e explica os processos psicossociais de formação de identidade, com embasamento na teoria do desenvolvimento. Foca em duas principais fases de caracterização e formação de personalidade: o “reconhecimento do eu” e o “reconhecimento do tu”.

Os autores abordam os modos através dos quais o sujeito forma sua identidade, inicialmente na infância e, posteriormente, na juventude. Explicitam que enquanto jovem, o indivíduo conhece a si e aos outros novamente e de uma outra forma, e reelabora os processos que conhecia até então com novas bagagens e novas interpretações. Na fase da juventude, o jovem assimila diversas questões como mudanças de cunho psíquico, biológico, sociais e culturais e projeta tudo isso em seu ser social, prestes a dar entrada no mundo do trabalho (MONTEIRO; VALE, 2011). O trabalho assume uma posição de inserção no mundo social enquanto parte que compõe a identidade do sujeito, somando-se à sua subjetividade (MONTEIRO; VALE, 2011).

Apesar de demonstrar preocupação em explicar como os processos vão se formando, entendemos que seria relevante aprofundar a questão social que cerca esses jovens. Por exemplo, valeria contextualizar as vivências do público jovem sobre o qual o artigo trata, dando corporeidade a esses sujeitos, ao inseri-los numa classe social e numa localização geográfica, o que seria, ainda, uma oportunidade para problematizar a atual estrutura capitalista e entender, principalmente, as principais dificuldades e motivações de tais jovens estarem em busca de seu primeiro emprego, ao invés de, por exemplo, investirem nos estudos.

Uma problemática que pode ser tomada como base para tal questionamento é o fato de que em 2020, de acordo com o IBGE, dos 23,7 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos desempregadas no Brasil, 15,6 milhões se autodeclararam pretas ou pardas. Nesse sentido, o contexto social e o trabalho, como fatores vinculados à formação das subjetividades e das identidades dos sujeitos não podem ser vistos de forma isolada e toda oportunidade de aproximar essas duas visões devem ser aproveitadas, a meu ver. É através de questionamentos como esses que a autoconsciência e o conhecimento a partir da produção acadêmica podem ser disseminados ainda mais amplamente.

Além disso, o contexto social se faz ímpar de ser explorado ao tomar como pressuposto, como visto nos dados obtidos através das entrevistas de Monteiro e Vale (2011), que o capitalismo sob a face do consumismo também é fator determinante na busca do primeiro emprego. A problematização da necessidade de se consumir e como isso vem sendo reproduzido, inclusive através de mecanismos de formação de identidade a partir do pressuposto de “eu sou o que eu tenho”, se faz necessária para entendermos mais a fundo o jovem destacado no artigo.

Nesse sentido, por fim, entende-se que o texto de Monteiro e Vale (2011) contribui para o entendimento de processos de formação de identidade a partir do primeiro emprego e articula-se muito bem com o seu objetivo primeiro: elucidar essa formação identitária à luz do Psicodrama. A abordagem de aspectos sociais pode ser um caminho para futuros estudos, de maneira a ampliar o entendimento sobre o contexto das vivências dos jovens.

Referências

MONTEIRO, Rodrigo Padrini; VALE, Zoé Margarida Chaves do. O jovem e a primeira experiência de trabalho. Revista Brasileira de Psicodrama, vol. 19, núm. 2, pp. 113-124, 2011.

 

*Graduanda em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, integrante do Grupo de Pesquisa: Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP / PUC Minas.

**Pós-doutor em Psicologia pela PUC Minas e integrante do Grupo de Pesquisa: Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP / PUC Minas.

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