Confira algumas produções do nosso grupo de pesquisa

Suicídio e Trabalho contemporâneo

Prof. José Newton Garcia de Araújo, Danielle Teixeira Tavares Monteiro e Nesmária Sany Costa Alves

Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar, através da revisão da literatura, os mecanismos específicos de nocividade do trabalho para a saúde mental que culminam com o ato suicida. À luz da Psicodinâmica do Trabalho e da Teoria Crítica da Sociedade, foram analisados como as mudanças no contexto do trabalho contemporâneo, principalmente a partir da década de 90, com a reestruturação produtiva e com a intensificação do modelo neoliberal de produção, geram as repercussões psíquicas sobre a saúde mental dos trabalhadores. Os resultados apontam para um fenômeno que é complexo, multicausal e multidimensional e que tem em seu cerne a degradação do mundo social do trabalho e o rompimento dos laços de solidariedade. Assim, na relação entre suicídio e trabalho, verifica- se que há um sofrimento e uma vivência de exacerbada alienação, de estranhamento e de perda de sentido que são individuais, mas que sua compreensão só pode ser feita de maneira coletiva e interdisciplinar, bem como devem ser estratégias de enfrentamento e de intervenção que garantam a sustentabilidade psicossocial nos ambientes de trabalho. Como conclusão, pode-se afirmar que estudar essa articulação entre suicídio e trabalho implica não somente uma opção epistemológica ou teórica, mas também uma orientação política, de transformação da realidade social.

 

A cooperação e a dimensão coletiva da atividade, em um sistema de exploração de minério de ferro

João César de Freitas Fonseca, José Newton Garcia de Araújo, Carlos Eduardo Carrusca Vieira e Rodrigo Padrini

Resumo: Este artigo discute os resultados preliminares de uma pesquisa sobre o trabalho de operadores de escavadeira a cabo na extração de minério de ferro. A investigação responde à demanda da empresa, que busca desenvolver um programa de operadores “de alto desempenho”. Baseados nos pressupostos teórico-metodológicos da Clínica da Atividade, utilizando entrevistas, observação de campo, instruções ao sósia e autoconfrontação, tomamos como questão analítica central a natureza coletiva do trabalho, articulada à noção de cooperação. Trata-se de uma alternativa prático-teórica, oposta à demanda de formação individualizada, limitada ao “operador-atleta”. Entende-se que a dimensão coletiva é uma instância fundante da cooperação, estruturando o processo produtivo e o fazer solidário das equipes de trabalho. Resultados preliminares evidenciam que, apesar de a organização não privilegiar a lógica da cooperação nas exigências de produtividade e na preservação da saúde e segurança dos trabalhadores, ela se abre ao debate sobre essa nova perspectiva do trabalho coletivo.

 

“A TERRA PROMETIDA”: discursos e impactos psicossociais na relação familiar de operadores da mineração

Thiago Casemiro Mendes, Bruna Coutinho e João Cesar de Freitas Fonseca

Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo apresentar a análise de um trabalho realizado com as famílias de um grupo de operadores que atuam em uma mineradora, situada no interior do estado do Pará. Este estudo adota uma abordagem qualitativa, inspirada na metodologia de pesquisas participativas, que buscam intervir em realidades concretas no mesmo percurso de construção do conhecimento, com participação dos sujeitos da pesquisa. O marco teórico foi baseado na Psicologia Social, com enfoque na análise institucional. O trabalho com as famílias foi desenvolvido a partir de duas ações: a) um grupo de fortalecimento de vínculos; b) e as visitas domiciliares, que possibilitaram o conhecimento do cotidiano familiar, de suas moradias, das relações interpessoais e com o território. Utilizou-se, outrossim, o diário de campo durante a estadia da equipe de pesquisa na cidade, o que permitiu entrar em contato e analisar outras perspectivas de moradores do município, de modo a permitir uma melhor contextualização dos discursos enunciados pelas famílias. Os resultados apresentam os diversos sentidos atribuídos pelas famílias acerca do trabalho dos operadores, desde “cansaço” a “coragem”. Destaca-se o papel do território nos processos de subjetivação das famílias e as redes sociais como fator psicossocial protetivo, no sentido de promover saúde. Outro fator importante foi o processo de aquisição das casas, fonte de grande conflito entre trabalhadores e empresa. Este trabalho proporcionou à equipe de pesquisa o estreitamento das relações com os operadores e suas famílias e a produção de conhecimento calcado em situações concretas.

 

Une expérience de recherche-intervention dans une entreprise d’exploitation minière : défis et possibilités

João César de Freitas Fonseca, José Newton Garcia de Araújo, Carlos Eduardo Carrusca Vieira et Rodrigo Padrini Monteiro

Résumés: Dans cet article sont discutés les résultats préliminaires d’une recherche-intervention dans une entreprise d’extraction de minerai de fer. Celle-ci nous avait commandé le développement individuel des opérateurs d’excavatrices à câble afin d’augmenter leur productivité. Comme proposition alternative nous avons présenté un projet centré sur la dimension collective du travail tout en valorisant le savoir-faire des opérateurs et des autres ouvriers du système productif local. Leurs familles ont également participé à la recherche. Appuyés sur des méthodologies qualitatives, nous nous sommes inspirés d’approches cliniques du travail en utilisant des entretiens, de l’observation de terrain, des groupes de discussion, l’instruction au sosie et l’auto-confrontation simple et croisée. Les résultats montrent que l’entreprise qui, préalablement, négligeait le dialogue avec ses travailleurs, tend maintenant à accueillir des actions visant à faciliter la dimension collective du travail ainsi qu’une participation relative des employés dans l’organisation locale des processus de travail.

 

O jovem e a primeira experiência de trabalho

Rodrigo Padrini Monteiro e Zoé Margarida Chaves Vale

Resumo: Este artigo apresenta um estudo sobre a relação existente entre o jovem e a vivência de sua primeira experiência de trabalho, buscando a compreensão dos fatores envolvidos nesse processo à luz do psicodrama e de outras pesquisas sobre o assunto, além de contribuir para a construção de novos conhecimentos sobre a juventude e a socionomia. A pesquisa- teórica e empírica- busca identificar os sentidos do trabalho para o jovem e as influências da sua primeira experiência na constituição de sua identidade. Foi possível estabelecer conexões entre os resultados obtidos e a teoria psicodramática, apontando para um campo fértil de conhecimento e pesquisa em relação à categoria trabalho na perspectiva da socionomia.

 

Psicodrama e o desenvolvimento de equipes de trabalho

Rodrigo Padrini Monteiro

Resumo: O presente artigo busca elucidar as principais contribuições do psicodrama, enquanto técnica e teoria, no processo de desenvolvimento de equipes, utilizado em empresas e dirigido a grupos de pessoas que precisam unir esforços para executar um trabalho em comum. Tendo em vista realizar o tratamento do indivíduo e do grupo, conclui-se que o psicodrama empresarial coincide com os principais objetivos de um programa de desenvolvimento: desenvolver habilidades interpessoais, diagnósticas e de tarefa.

 

Rodrigo Padrini Monteiro, José Newton Garcia de Araújo, Maria Ignez Costa Moreira

Resumo: O trabalho doméstico, remunerado ou não, tem sido historicamente atribuído à mulher, surgindo como encargo específico do papel de gênero feminino e assumindo um caráter de invisibilidade e desvalorização social. Neste artigo, sugerimos um viés de análise que considera a atividade além de sua institucionalização econômica, como ação prática e psíquica, sede de investimentos vitais e de transformação de si e do mundo. Por meio da revisão de literatura, mostramos que o trabalho doméstico apresenta contornos de submissão e permanece vinculado à mulher. Discutimos o trabalho como instituição, passível de ser construído e desconstruído, e relacionamos os afazeres domésticos às atividades rejeitadas que permanecem nos bastidores, acarretando também sua perda de sentido, segundo as perspectivas das clínicas do trabalho.

 

Manicômio Judiciário e Agentes Penitenciários: entre Reprimir e Cuidar

Rodrigo Padrini Monteiro e José Newton Garcia Araújo

Resumo: Os manicômios judiciários são instituições destinadas a acolher pessoas que cometem crimes e que, por motivo de doença ou deficiência mental, são consideradas inimputáveis, também tratadas como “louco infrator” ou “paciente judiciário”. O presente artigo, baseado em pressupostos críticos da Psicologia do Trabalho, discute resultados obtidos a partir de uma pesquisa de mestrado em um manicômio judiciário de Minas Gerais. O estudo buscou compreender a atividade dos agentes penitenciários, responsáveis por garantir a ordem e a segurança do estabelecimento e de todos os indivíduos ali presentes. Constatou-se que sua atividade não se restringe à segurança, mas que abrange o cuidado, o envolvimento afetivo e a preocupação com os indivíduos custodiados naquela instituição. Se o trabalho de agente penitenciário é socialmente marginalizado, verificou-se que ele é valorizado pelos sujeitos que o executam, mesmo que estes se deparem com a ambivalência inerente à natureza do manicômio judiciário. Entre a prescrição de reprimir e o apelo a cuidar, os agentes enfrentam uma realidade marcada pelo duplo sofrimento do paciente judiciário: o rótulo da loucura e a privação da liberdade.

 

Preso ou paciente? A ambivalência institucional na atividade de agentes penitenciários em um manicômio judiciário de Minas Gerais

Rodrigo Padrini Monteiro

Resumo: Os Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), ou manicômios judiciários, são instituições destinadas a acolher pessoas que cometem crimes e que, por motivo de doença ou deficiência mental, são consideradas inimputáveis, sendo também tratadas como “pacientes judiciários” ou “loucos infratores”. Nessas instituições, os agentes penitenciários são responsáveis por garantir a ordem e a segurança, enquanto o pessoal técnico se encarrega de cuidar, tratar, avaliar e acompanhar os presos, garantindo sua saúde e seus direitos. O presente artigo, baseado em pressupostos críticos da psicologia do trabalho, discute resultados obtidos a partir de uma pesquisa de Mestrado, realizada em um manicômio judiciário de Minas Gerais, tendo como objetivo compreender a atividade de seus agentes penitenciários. A pesquisa evidenciou a ambivalência institucional dessa atividade, inscrita no conflito entre a lógica da segurança (prisão) e a lógica da saúde (hospital), tanto nos modos de lidar e se relacionar com o preso-paciente, como na estrutura física e no funcionamento do estabelecimento, no qual se privilegiam o aparato de segurança e a repressão, em detrimento da ressocialização.

* A Revista Brasileira de Ciências Criminais é restrita a assinantes.

 

Ansiedade e a “perda” da espontaneidade 

Rodrigo Padrini Monteiro

Resumo: A ansiedade sob o ponto de vista do Psicodrama, com contribuições quanto a noção de saúde e doença de Georges Canguilhem, adotada pelo psicólogo francês Yves Clot. A ansiedade, em si, é um processo mental e físico, acionado em determinadas situações e um fenômeno comum, que faz parte do funcionamento do nosso organismo. Presente em nossos ancestrais, o mecanismo que nos estressa diante de perigos concretos e ameaças à nossa integridade, sempre esteve a serviço de nossa sobrevivência. Se considerarmos uma conduta espontânea como uma resposta adequada a si mesmo e ao meio em que se vive, o aumento da ansiedade virá com a diminuição dessa capacidade. Ou seja, o adoecimento ou o surgimento desproporcional da ansiedade está diretamente relacionado à diminuição da espontaneidade.

*O número da revista onde este artigo foi encontrado encontra-se indisponível na internet. Em caso de interesse, você pode solicitar o texto para o autor através do e-mail rodrigopadrini@gmail.com

CABRAL, D. P.; MONTEIRO, D.T.T. . Autonomia e Vulnerabilidade no Trabalho: relatos de uma experiência interdisciplinar no serviço público. In: Taisa Maria Macena de Lima; Maria de Fátima Freire de Sá; Diogo Luna Moureira;. (Org.). Autonomia e Vulnerabilidade. 1ed.: , Belo Horizonte: Arraes editores, 2017, cap. 5, p. 48-59. Disponível em <https://arraeseditores.com.br/media/ksv_uploadfiles/o/l/olho_-_autonomia_e_vulnerabilidade.pdf>. acessos em 14 jul. 2021.

 

MENDES, T. C. (2020). Nosso trabalho é invisível: fatores de riscos psicossociais da atividade de trabalho de Técnicos em Mina e Geologia em um sistema de exploração de minério de ferro. 98f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.