Christophe Dejours e a saúde mental no trabalho

Christophe Dejours e a saúde mental no trabalho

Me lembro quando, no 9º período da graduação em Psicologia, vislumbrei a possibilidade de atentar para aspectos psicológicos do trabalho, como ainda não havia feito. Adoecimento psíquico no trabalho:  algo mais comum do que imaginava e menos falado quanto deveria, pensei.

Afinal, quem não conhece alguém que ficou estressado no trabalho ou se afastou por uns dias? Ou desenvolveu uma lesão por esforço repetitivo? Ou sentiu que seu trabalho o estava enlouquecendo, deprimindo ou gerando ansiedade?

Das mais simples às mais complexas, são diversas as relações possíveis entre trabalho e adoecimento. No entanto, até conhecer a obra de Christophe Dejours, médico francês, e ter acesso à sua visão de sofrimento e prazer no trabalho, não sabia o quanto me interessaria por esse campo de estudo.

Ao apresentar um percurso histórico-conceitual do estudo da relação entre psicologia e trabalho, Leão (2012) nos mostra um campo de abordagens múltiplas em organizações, grupos e pessoas, delimitando como objeto de investigação comum os “fenômenos relativos aos processos organizacionais e do trabalho enquanto fazer humano” (LEÃO, p.293, 2012).

Dentre diversas propostas, as chamadas abordagens clínicas do trabalho consideram o trabalho como central para compreensão da relação entre subjetividade, saúde e sofrimento. É aí que situamos a Psicodinâmica do trabalho, modelo teórico-metodológico elaborado por Dejours e seus colaboradores na França, com grande herança dos estudos franceses de Psicopatologia do Trabalho de Le Guillant, P. Sivadon, entre outros.

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A psicodinâmica é um modo de pesquisa-intervenção que privilegia o fato que sobre as mesmas pressões e condições desestruturantes e hostis de trabalho, os trabalhadores, em geral, ainda conseguem manter um determinado equilíbrio psíquico. Ou seja, os trabalhadores não ficam passivos frente à organização do trabalho, eles atuam, criam, se defendem, estruturam sua personalidade, alcançam o prazer ou o sofrimento.

Essa abordagem busca basicamente o exercício de uma reflexão coletiva e construtiva, capaz de conhecer as vivências do trabalhador e consequentemente despertar modos de transformar a organização do trabalho, a favor da produtividade e sua saúde psíquica. Pretendo discutir mais sobre sua obra por aqui e outras abordagens, mas por enquanto deixo algumas indicações de leitura.

Livros:

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5ª ed. amp. São Paulo: Cortez – Oboré, 1992.

_________ . Psicodinâmica do trabalho: contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.

Artigos:

HELOANI, R. & LANCMAN, S. Psicodinâmica do trabalho: o método clínico de intervenção e investigação. Prod, 14 (3), pp. 77-86. 2004.

MERLO, A. R. C. & MENDES, A. M. B. Perspectivas do uso da psicodinâmica do trabalho no Brasil: teoria,pesquisa e ação. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, vol. 12, n. 2, pp. 141-156. 2009.

Referências:

LEÃO, L. H. C. Psicologia do Trabalho: aspectos históricos, abordagens e desafios atuais. Estudos Contemporâneos da Subjetividade, vol.2, n.2, p.291-305, 2012.

6 Comentários

Christophe Dejours: “Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal” – Trabalho e Psicologia Publicado em13:18 - 11/05/2018

[…] Dejours, sobre o qual já falei um pouco aqui no blog, forneceu uma excelente entrevista que está disponível no site do periódico Público de […]

Trabalho sofrido e sofrimento no trabalho: existe diferença? – Trabalho e Psicologia Publicado em13:19 - 28/06/2018

[…] discussões propostas pela Psicodinâmica do Trabalho, criada por Christophe Dejours, na França, a partir década de 80, apresentam grandes contribuições para o estudo do sofrimento […]

O trabalho que não fazemos: a atividade impedida – Trabalho e Psicologia Publicado em09:14 - 19/11/2018

[…] momento, optei por me interessar mais por Christophe Dejours, outro francês, autor de um livro igualmente legal, chamado “A loucura do trabalho” (Cortez […]

Por qual motivo ainda individualizamos o adoecimento no trabalho? | Mais uma Opinião Publicado em21:25 - 29/01/2020

[…] são fatores determinantes quando se discute adoecimento mental no trabalho, como já verificaram Christophe Dejours e Yves Clot, por […]

Paulo César Galetto Publicado em16:46 - 01/05/2022

Boa iniciativa!
Dejours foi referência em minha dissertação no mestrado em psicologia.
Importante destacar que ele aborda a Psicologia do Trabalhador e e não Psicologia do Trabalho. Ou seja, ele aborda questões pela percepção do trabalhador em relação ao ambiente onde está inserido que pode conduzir para o bem estar ou para o adoecimento, este ultimo geralmente acontece.

Da minha pesquisa, surgiu este livro, caso queiram saber mais sobre adoecimento laboral:
https://amzn.to/3DEBihi
Abs

Rafaela Publicado em11:48 - 25/09/2022

Achei extremante necessário o texto nos aproximas de tais observações no universo do campo de trabalho… um campo que cresci a cada ano a intensa rotina de excessos seja da própria carga de trabalho como os baixos salários ( esse cada vez mais fatal pela irregularidade do descaso) .

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