Marina Freitas Alves da Costa*; Rebecca Magalhães Monteiro**
O presente texto constitui uma resenha do artigo intitulado “Engajamento no trabalho, saúde mental e personalidade em oficiais de justiça” com autoria de Natália dos Santos Dalanhol da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, RS; Clarissa Pinto Pizarro de Freitas da Universidade Salgado de Oliveira, RJ; Wagner de Lara Machado da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, SP; Claudia Simon Hutz da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS; e Ana Claudia Souza Vazquez da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, RS.
Os autores trazem a definição de engajamento como um estado positivo com alto nível de energia que desencadeia sensação de bem-estar e identificação com o trabalho, sendo constituído por três dimensões, a saber, vigor, dedicação e concentração. A partir do Modelo Teórico de Recursos e Demandas do Trabalho (Modelo RDT), o engajamento abarca o bem-estar, a saúde e a motivação do trabalhador como resultantes de um equilíbrio entre recursos e demandas das características do trabalho.
Além disso, nesse modelo as características individuais são consideradas como sendo recursos pessoais do trabalhador e esses dizem da maneira como o indivíduo controla e age em seu ambiente. São citados na literatura o otimismo, a autoeficácia, autoestima e os traços de personalidade como exemplos de recursos pessoais.
Ainda na literatura é encontrada uma escassez de estudos a respeito das condições de trabalho de servidores do Judiciário, em particular dos oficiais de Justiça. Assim, faz-se necessário compreender a relação do processo saúde/doença desses trabalhadores que enfrentam situações precárias de trabalho e, consequentemente, riscos para adoecimentos. Assim, o objetivo do estudo dos autores foi investigar as relações entre o engajamento no trabalho, o traço de personalidade neuroticismo e a saúde mental de oficiais de justiça em Porto Alegre e região metropolitana.
Para isso, a amostra foi composta por 200 oficiais de justiça do Tribunal de Justiça S (TJRS), de Porto Alegre e região metropolitana, com idade entre 21 e 68 anos. Os instrumentos utilizados foram a Escala Utrecht de Engajamento no Trabalho composta por 17 itens que englobam três fatores do engajamento (vitalidade, dedicação e concentração); a Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/ Neuroticismo – EFN que avalia os índices de neuroticismo e suas dimensões (vulnerabilidade, desajustamento psicossocial, ansiedade e depressão) por meio de 82 itens; e Self-Reporting Questionnaire – SRQ-20 que é composta por 20 itens que avaliam a existência ou inexistência de quatro grupos de sintomas: humor depressivo-ansioso, sintomas somáticos, decréscimo de energia vital e pensamentos depressivos. A coleta de dados foi realizada por meio de uma plataforma online.
A partir dos dados coletados e das análises estatísticas realizadas, verificou-se que o engajamento dos oficiais de justiça do TJRS é mediano mesmo diante das dificuldades encontradas na rotina de trabalho. Tal resultado pode estar relacionado aos fatores positivos da profissão, como reconhecimento social, autonomia e apoio social, que minimizam os efeitos dos aspectos que poderiam contribuir para um menor engajamento, como o grande volume de demandas.
Acrescenta-se que o estudo demonstrou associação significativa entre engajamento e saúde no trabalho. As dimensões avaliadas no questionário de saúde se correlacionaram negativamente com as dimensões de engajamento, sendo assim os oficiais que apresentam sintomas psiquiátricos menores tendem a apresentar menores níveis de engajamento. Além disso, o estudo identificou o decréscimo na energia vital como melhor preditor para o engajamento e, assim, corroborando com a literatura de que o engajamento possui relação com bem-estar e saúde mental. Em relação ao traço de personalidade neuroticismo, a dimensão depressão e desajustamento psicossocial demonstraram ter menor efeito preditor do engajamento quando comparado com os fatores de saúde. Assim, há uma correlação fraca entre personalidade e engajamento.
Diante os resultados apresentados, o estudo elucida a necessidade das intervenções considerarem também programas de promoção de saúde mental no âmbito organizacional para alcançar uma melhora do engajamento.
Referência:
Dos Santos Dalanhol, N., de Freitas, C. P. P., de Lara Machado, W., Hutz, C. S., & Vazquez, A. C. (2017). Engajamento no trabalho, saúde mental e personalidade em oficiais de justiça. Psico, 48(2), 109-119. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/25885
* Marina Freitas Alves da Costa é graduanda no curso de Psicologia da PUC Minas, bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais e assistente terapêutica de crianças com atraso no desenvolvimento com base no Modelo Denver de Intervenção Precoce.
** Rebecca Monteiro é psicóloga pela PUC Minas, mestre e doutora em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. É professora na PUC Minas e Coordenadora do LEPAP (Laboratório de Estudos e Pesquisa em Avaliação Psicológica PUC Minas/Coração Eucarístico)
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