Trabalho e Identidade: uma reflexão à luz do debate sobre centralidade do trabalho na sociedade contemporânea

Trabalho e Identidade: uma reflexão à luz do debate sobre centralidade do trabalho na sociedade contemporânea

Por João Paulo Tomayno de Melo* e Daniela Piroli Cabral**

A seguinte resenha foi produzida a partir do artigo “Trabalho e Identidade: uma reflexão à luz do debate sobre centralidade do trabalho na sociedade contemporânea”. No mesmo, a autora se propôs a compreender os argumentos por trás da noção do “fim do trabalho”, que vem sido trazida em meio a discussões sobre o meio organizacional e do trabalho.

Para abordar a centralidade do trabalho e seu papel não apenas no contexto social, mas também na vida dos sujeitos, a autora apresenta a ideia trazida por alguns teóricos, segundo a qual, em razão da automatização e substituição da mão de obra humana pelas máquinas, a tendência é de que o trabalho estaria encaminhando-se para seu fim. Trazendo alguns exemplos práticos disso, temos as funções industriais automatizadas, mas também os serviços de telefonia, cujos funcionários têm sido substituídos de maneira célere por atendentes não-humanos.

Esse contexto havia sido alertado por Karl Marx, em sua obra “O Capital”, que tratou tal fenômeno como um gerador natural do desemprego, sendo o mesmo algo estrutural para o funcionamento do sistema capitalista.

Ainda utilizando-se da teoria marxista, a autora faz uma diferenciação que aqueles que argumentam a favor do “fim-do-trabalho” dos conceitos de trabalho e de emprego, cujas definições, embora muitas vezes confundidas entre si, não dizem exatamente da mesma coisa. Enquanto o trabalho é uma atividade que define o ser humano como é, o emprego é uma construção social e histórica, que, diferente do primeiro, não é necessariamente presente em todas as sociedades e momentos ao longo da história da humanidade.

O objetivo da autora quanto a isso é criticar tal concepção, tendo em vista que ela pode operar para destituir essa atividade do seu papel central na constituição das identidades sociais e coletivas (LIMA, 2007). Sendo assim, o fim do trabalho pode acabar sendo utilizado como ferramenta de esvaziamento do debate e do protagonismo que o trabalho como atividade tem como formador de identidade.

Argumentando em favor a isso, a autora volta a trazer a concepção marxista do trabalho, no tocante a definição do trabalho. Sobre isso, a autora traz o seguinte comentário:

Portanto, embora a ação humana não se restrinja ao trabalho, este passou a ser concebido, a partir da perspectiva aberta por Marx, como mediador por excelência entre o homem e a natureza, mas também como a protoforma de todas as atividades humanas. (LIMA, 2007, pg 2).

Segundo essa linha argumentativa, nota-se que o trabalho não é concebido apenas da maneira como o tratamos atualmente, mas é uma atividade central nas relações humanas e sociais, tornando impossível a tarefa de alienar o ser humano do trabalho, tendo em vista que ele é um dos principais fatores que o definem.

Por fim, o artigo ainda traz um dado importante para contra argumentar a tese da perda da centralidade do trabalho, afirmando que as postulações dos autores que a defendem contam com poucas evidências empíricas para sustentar sua postura. Para isso, cita o trabalho de diversos pesquisadores que se debruçam sob o tema, cujas conclusões tendem a divergir radicalmente do suposto fim do trabalho.

O consenso desses autores é de que a atividade de trabalho é tida como a base essencial para a construção da identidade e que aqueles que estão inseridos no mundo do trabalho se reconhecem como agentes moralmente aceitáveis (LIMA, 2007). As mesmas pesquisas apontam que os resultados encontrados ressaltam que as atividades não remuneradas não suprem esse mesmo papel na significação dos sujeitos. Isso pode ser interpretado como um dos traços do sistema capitalista sob o qual as entrevistas ocorreram.

Outro ponto abordado pelas pesquisas é a perda de referência e ruptura de identidade quando ocorre a perda do trabalho, argumento que favorece a noção de centralidade que tal atividade desempenha na vida e na significação dos sujeitos.

A autora encerra o texto afirmando que, segundo as pesquisas teóricas e práticas, o trabalho não perdeu sua centralidade e que isso também não ocorrerá, devido a ser um fator presente de maneira intrínseca a vivência humana. Vale refletir também que a tese do “fim-do-trabalho” não pode ser interpretada de maneira inocente, e se for recebida de maneira irrestrita, pode servir a um objetivo específico e a favorecer justamente aos que mais se beneficiariam com a crença de que o trabalho não define o sujeito.

Referências:

LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Trabalho e identidade: uma reflexão à luz do debate sobre a centralidade do trabalho na sociedade contemporânea. Educação & Tecnologia, [S.l.], v. 12, n. 3, fev. 2011. ISSN 2317-7756. Disponível em: <https://seer.dppg.cefetmg.br/index.php/revista-et/article/view/107>. Acesso em: 10 nov. 2021.

*João Paulo Tomayno de Melo, estudante de psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, escritor, estagiário da equipe de Psicologia da ASSPROM (Associação Profissionalizante do Menor) e membro do núcleo de pesquisa em Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – Psitrapp.

** Daniela Piroli Cabral, É Terapeuta Ocupacional (UFMG) e Psicóloga (PUC Minas), mestranda em Processos Psicossociais pela PUC Minas. Trabalha como Psicóloga na Gerência Ocupacional da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e também em consultório particular. É membro do núcleo de pesquisa em Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – Psitrapp.

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