Psicossociologia: crise ou renovação?

Psicossociologia: crise ou renovação?

Por Danielle Teixeira Tavares Monteiro* e Nathalya Santos Ribeiro**

Nesse texto, apresentaremos a discussão teórica proposta no artigo “Psicossociologia: crise ou renovação?”, publicado no livro “Psicossociologia: análise social e intervenção”, em 2001, e escrito por André Lévy, psicossociólogo francês.

Psicossociologia Andre LevyO autor inicia o artigo questionando a aparente decadência da Psicossociologia no contexto atual. Ele argumenta, e demonstra, que seus objetos de estudo e intervenção se mantém presentes, o que desmistifica a possibilidade de seu fim. Nesse sentido, ele reflete sobre as razões e os significados que perpassam essa aparente decadência, em contraponto ao sucesso de métodos e técnicas que parecem tê-la suplantado.

O artigo divide-se em quatro tópicos: “A decadência aparente da Psicossociologia”; “O conceito de demanda social”; “A análise da demanda: a ética da Psicossociologia” e “Perspectivas para o futuro”. No primeiro, Lévy explicita que, a partir da década de 70, inúmeras e incomparáveis metodologias surgiram a fim de oferecer respostas globais, imediatas e rápidas a questões deixadas em suspenso pela Psicossociologia. Essas metodologias são, na maior parte das vezes, prescritivas e de baixo custo, em contrapartida a métodos mais longos, incertos e custosos, como os propostos pela Psicossociologia, por exemplo.

Outro ponto levantado pelo autor refere-se ao interesse dessas metodologias pelos mecanismos lógicos, enquadramentos e sistemas de regulação das relações humanas, o que indica o foco no controle sobre o homem o sobre os próprios processos. Com isso, o autor aponta que a “crise” ou a decadência relativa da Psicossociologia apresenta um caráter relativamente saudável, pois significa a renúncia da crença em uma metodologia performática, sendo necessária a compreensão das demandas de forma ampliada, sem reduzí-la a respostas e soluções imediatas.

No segundo tópico, o autor demonstra a importância da demanda para a Psicossociologia, sendo ela o principal ponto de interesse e análise. O autor, faz uma articulação entre o psicológico e o social e, consequentemente, entre o individual e o coletivo, o que o levou a compreensão de uma “demanda social”. É esse o aspecto que diferencia a demanda para a Psicossociologia, dando-a singular importância. A demanda, para a Psicossociologia, deve ser analisada e tratada sempre de maneira coletiva, em uma indagação constante sobre seu significado.

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No terceiro tópico, Lévy elabora sobre a complexidade que envolve a demanda, não se resumindo a apenas em uma reivindicação. Isso exige daquele que a recebe uma postura ética e uma concepção da sociedade e das relações humanas “factíveis de mudança”. Nesse aspecto, a análise da demanda implica sua compreensão enquanto heterogeneidade, sendo uma representação da sociedade composta de uma pluralidade de atores, individuais e coletivos, interagindo entre si e que estão sempre em “relações de força”. Um ponto importante refere-se à perspectiva de pesquisa em relação à demanda, ou seja, um caráter teórico que associe sua pesquisa e intervenção à construção de novos conhecimentos.

Caminhando para o final do texto, no último tópico o autor apresenta as “Perspectivas para o futuro”, argumentando que a Psicossociologia ocupa um lugar específico nas ciências humanas. Ele fala de seu “caráter interdisciplinar”, demonstrando a importância de outras disciplinas em sua formação epistêmica, como a Psicanálise, por exemplo, e a Sociologia Clínica, principalmente aquela orientada para a análise das instituições e dos movimentos sociais. Por esse caráter, Lévy argumenta que a Psicossociologia se encontra aberta ao processo de renovação, na medida em que compreende as diversas possibilidades de análise que se comprometem com os processos de intervenção e de mudança, sendo impossível seu fim.

Referência:

LÉVY, A. A psicossociologia: crise ou renovação? IN: LÉVY, A. et al. Psicossociologia: análise social e intervenção; organizado e traduzido por Marília Novais da Mata Machado et al. – Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p.109-120.

* Danielle Teixeira Tavares Monteiro é mestre e doutoranda em Psicologia pela PUC Minas, Analista Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG), e integrante do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais.

** Nathalya Santos Ribeiro é graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas e bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais.

1 comentário até agora

Thiago Casemiro Mendes Publicado em16:27 - 03/11/2019

Ótimo texto Dani e Nathalya! Objetivo e ao mesmo tempo convidativo à leitura completa da obra. Parabéns !

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