Revoluções Tecnológicas e Transformações Subjetivas

Revoluções Tecnológicas e Transformações Subjetivas

Por Lilian Karen Aparecida de Castro* e Rafael Soares Mariano Costa**

Neste texto, iremos apresentar um resumo do artigo: “Revoluções Tecnológicas e Transformações Subjetivas”, da autora Ana Maria Nicolaci-da-Costa, publicado em 2002, na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa.

Sobre a autora: Ana Maria Nicolaci-da-Costa é Bacharel em Jornalismo e Psicóloga, ambos os títulos obtidos na PUC-Rio. Concluiu seu Mestrado em Psicologia na New School for Social Research (Nova York), em 1975, e seu Doutorado, também em Psicologia, na Universidade de Londres, em 1983. Atualmente é Professora Emérita da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Nas últimas décadas vem se dedicando a estudar os impactos psicológicos gerados pelas transformações sociais que vêm ocorrendo no Brasil. É membro do Conselho Diretor do Instituto de Mídias Digitais da PUC-Rio.

As mudanças sociais propiciadas pelos avanços tecnológicos são perceptíveis em vários níveis. Podemos pensar nas transformações, sejam essas no âmbito familiar, de trabalho, dentre outros, traçando paralelos de como se davam as mais diversas relações antes das tecnologias e como essas são constituídas atualmente. As mudanças estão para além dos costumes, mas são também mudanças de percepções, de visão de mundo e de comportamento.

Para tanto, a autora retoma alguns importantes marcos e aspectos que contribuíram para a constituição da vivência na forma como concebemos hoje, explorando “o período de grandes transformações sociais e subjetivas que se seguiu as descobertas de diferentes formas de energia inanimada nos séculos XVIII e XIX” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 194), buscando, através dessas transformações, entender um pouco mais sobre as mudanças sociais.

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A forma que a rede de cada indivíduo passou a ser organizada, a posição subjetiva que é desencadeada pelas novas formas de relação, são mudanças provocadas por essa reorganização e exposição, que altera a forma de se constituir e se posicionar. Sendo assim, a autora procura implicar a necessidade da psicologia não ficar alheia a essas significantes alterações do funcionamento psíquico advindas das revoluções tecnológicas.

Para construir um diálogo acerca das transformações fundantes de uma revolução como tal vivenciamos na atualidade, faz-se necessário retomar as Revoluções Industriais, um importante marco das criações da energia a vapor e posteriormente a energia elétrica. Geradoras de uma descontinuidade e rapidez nos mais diversos cenários. “Todas têm em comum a aceleração sem antecedentes históricos, o fato de atuar no processo central de todos os processos […], a difusão por todo o sistema econômico e a penetração em todo o tecido social” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p.194). O remanejamento do uso das forças de trabalho, a aceleração e fluidez das mudanças, formataram alterações muitas das vezes difíceis de serem assimiladas, até mesmo por autores e pensadores da época.

Um cenário que tem especial lugar neste debate é o surgimento do espaço urbano, da vida nos grandes centros, pois esses novos lugares de interação e vivência são um aspecto marcante dessa transição. Diversos autores debruçaram-se na teorização sobre esse espaço de vivência e convivência, como Marx, Engels ou Tocqueville, que passavam de uma concepção mais positiva, outra angustiada e outra equilibrada.

Tanto no surgimento das cidades quanto no surgimento de espaço de vivência coletiva possibilitado pela internet, foram grandes os marcos de transformação, em um espaço novo de convivência e interação, reorganização estrutural e simbólica: “novos espaços colocam em operação novas necessidades, novas demandas, novas regras de produção, sociabilidade, sobrevivência, etc” (SIMMEL apud NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 197).

A vida urbana propiciou uma série de mudanças na organização psíquica. Como apresenta Nicolaci-da-Costa (2002), Freud foi um dos pensadores que trouxeram reflexão sobre a introdução de vastas mudanças. E quando se trata de examinar “o que já foi produzido sobre a revolução da Internet é de que a história se repete” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 197). Assim como as cidades tiveram um enorme impacto na forma da sociedade se relacionar, interagir e se organizar, a internet, que apesar de não ser um espaço materializado, é um espaço imaginário que provoca também mudanças, no quesito de interação, organização, sociabilidade, dentre tantos outros aspectos.

Tais transformações e impactos se dão em diferentes níveis, e o patológico é um deles, tal comportamento anunciado pela autora Young (1998), como através de um “uso intensivo da Internet, que ela acredita ter as características de um vício” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 198). Essas alterações psíquicas suscitam discussões em torno da multiplicidade de “eus” que a internet pode promover, através da vivência “como se fora em várias ‘janelas’ abertas simultaneamente” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p.198). Essas novas constituições estão em estado de emergência, com uma infinidade de possibilidades.

Essas transformações são tão intensas que impactam até mesmo nosso vocabulário, refletindo a necessidade em “registrar e dar alguma concretude às mudanças desencadeadas” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p.199) por tal momento. Sendo assim, é importante o profissional da psicologia estar atento e reconhecer essas transições, não sendo possível pensar em uma sociedade imutável.

Referências

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Revoluções tecnológicas e transformações subjetivas. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online]. 2002, vol. 18, n. 2, pp. 193-202. ISSN 0102-3772.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722002000200009.

* Lilian Karen é graduanda do curso de Psicologia da PUC Minas e bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais.

** Rafael Soares Mariano Costa é psicólogo clínico, mestre em Gestão Social e Educação pelo Centro Universitário UNA, doutorando em Psicologia pela PUC Minas e integrante do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais.

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