Um artigo, publicado em 2017, na revista Estudos de Psicologia, da PUC Campinas, traz uma breve e importante discussão. Em “Linhas paralelas: as distintas aproximações da Psicologia em relação ao trabalho”, Bernardo, Oliveira, Souza e Souza (2017) apresentam “elementos para o debate sobre a unicidade, ou não, das abordagens construídas ao longo da história dessas aproximações, com foco nas vertentes da Psicologia Social do Trabalho e da Psicologia Organizacional”.
Ao discutir a construção histórica dessas tradições, as autoras ressaltam que a Psicologia Organizacional – por um período denominada Psicologia Industrial – nasceu em um contexto de expansão industrial, para atender aos interesses colocados por este setor. À época, o processo de industrialização representava uma espécie de “motor” de desenvolvimento econômico e social, abrindo um campo de atuação da Psicologia junto às gerências.
As autoras afirmam que, apesar da mudança discursiva e da inclusão de temas como qualidade de vida, clima organizacional e equipes de trabalho nas práticas dessa Psicologia, o que se observa ainda é uma produção prática e teórica essencialmente vinculada à gestão e à ideia de que estaríamos prestando um serviço apolítico-neutro que favorecerá igualmente proprietários e empregados.
Nesse sentido, concordo que é comum verificar, em muitas intervenções da Psicologia nas organizações, um foco na promoção de relações amigáveis, motivação e “melhoria” no clima organizacional, em prol da cooperação, em detrimento de mudanças nas condições materiais e processos de trabalho, assim como das intrínsecas e conflituosas dinâmicas de poder. Como se uma coisa pudesse ser desvinculada da outra.
Por outro lado, Bernardo, Oliveira, Souza e Souza (2017) enfatizam que a Psicologia Social do Trabalho (ou Psicologia Social Crítica do Trabalho) “tem sua origem em um momento histórico de abertura política no Brasil, quando os preceitos capitalistas passam a ser fortemente criticados” (p.21). Para as autoras, essa Psicologia “se desenvolveu [no Brasil] orientada por uma Psicologia Social de cunho sociológico, que propõe a reflexão acerca das consequências políticas de sua produção acadêmica, bem como das intervenções realizadas pelos profissionais” (p.20).
O artigo deixa claro que o processo histórico de construção de práticas e conhecimento da Psicologia Organizacional e da Psicologia Social do Trabalho, por exemplo, denota como as suas origens e primórdios explicam a representação e a atuação divergentes que possuem na atualidade. Para as autoras, não é possível afirmar a existência de um campo unitário nas aproximações da Psicologia em relação ao trabalho, sob o guarda-chuva artificial da “Psicologia Organizacional e do Trabalho”, o que representaria desconsiderar posições filosóficas e políticas.
Apesar de apontarem essa divisão, aparentemente insuperável, elas compreendem “que essa diferenciação é importante tão somente para que profissionais e pesquisadores da Psicologia tenham clareza da diversidade de objetos de estudo, referenciais teóricos, propostas metodológicas e posicionamentos políticos que envolvem as pesquisas ou as intervenções relacionadas ao mundo do trabalho e, assim, possam definir com tranquilidade qual caminho querem traçar” (p.22).
Acesse o artigo completo aqui: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02752017000100003
Referências
BERNARDO, Marcia Hespanhol, OLIVEIRA, Fábio de, SOUZA, Heloisa Aparecida de, & SOUSA, Caroline Cristiane de. (2017). Linhas paralelas: as distintas aproximações da Psicologia em relação ao trabalho. Estudos de Psicologia (Campinas), 34(1), 15-24. https://dx.doi.org/10.1590/1982-02752017000100003
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