O trabalho contemporâneo por meio de esquetes do grupo porta dos fundos: O audiovisual no processo de ensino e aprendizagem

O trabalho contemporâneo por meio de esquetes do grupo porta dos fundos: O audiovisual no processo de ensino e aprendizagem

Resenha elaborada a partir do artigo “O trabalho contemporâneo por meio de esquetes do grupo porta dos fundos: O audiovisual no processo de ensino e aprendizagem.” de Jesus Alexandre Tavares Monteiro e Carolina Costa Resende. Publicada na revista Educação em Foco em abril de 2023.

Escrito por Gabriel Alves de Oliveira* e orientado por Carlos Eduardo Carrusca Vieira**

Resumo

O presente artigo tem como objetivo explicitar o uso do audiovisual no processo de ensino e aprendizagem por meio, mais especificamente, da abordagem do mundo do trabalho em esquetes do grupo Porta dos Fundos. Por intermédio de uma revisão bibliográfica sobre o tema, de experiências de docência e de debates coletivos em um grupo de trabalho, constituiu-se um arcabouço de conceitos relativos à temática do trabalho revistos e exemplificados em oito esquetes. Em consonância, promovemos um breve debate sobre o uso da arte cômica em sala de aula e tecemos reflexões sobre a mediação audiovisual. Desse modo, constatou-se que o processo de mediação educacional ocorrido por meio do ativismo visual é uma exímia ferramenta de intervenção pedagógica para as práticas docentes.

Palavras-chave: Comédia. Esquetes. Grupo Porta dos Fundos. Mediação e Trabalho.

Esta é uma resenha que tem como objetivo refletir sobre o artigo “O trabalho contemporâneo por meio de esquetes do grupo porta dos fundos: O audiovisual no processo de ensino e aprendizagem.”, de Jesus Alexandre Tavares Monteiro e Carolina Costa Resende (2023). Tal artigo analisa o trabalho contemporâneo utilizando esquetes do grupo humorístico brasileiro Porta dos Fundos, considerando-os como possíveis ferramentas didáticas para o ensino e estudo das relações de trabalho. Através de uma análise coletiva de alguns esquetes, o artigo procura destacar como estes retratam várias nuances do mundo do trabalho. A metodologia do estudo compreendeu seleção e discussão coletiva de dos esquetes, baseada na discussão das relações de trabalho.

Um dos esquetes que Monteiro e Resende trazem para reflexão, intitulado “Corte de Gastos”, retrata um diretor de cinema discutindo com a produção sobre os cortes orçamentários em uma produção cinematográfica. O esquete mostra os membros da equipe sendo removidos gradualmente, demonstrando a interdependência dos trabalhadores e a perda de qualidade resultante da remoção de trabalhadores. Tal perda de qualidade se torna tão grande que se é possível notar a precariedade que se transforma na ausência dos trabalhadores que foram julgados desnecessários na produção do filme. Esse reducionismo pode ser enxergado durante o período da pandemia por Covid-19, em que, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), de abril a dezembro de 2020 mais de 9.800.000 empregados tiveram jornada reduzida ou contrato suspenso, mostrando que certas vezes a redução de empregados é vista apenas como redução de gastos.  

Seguindo a partir dessa visão reducionista, atualmente se vê um movimento emergente em que o quadro de funcionários não é reduzido, mas substituído por versões mais baratas e maleáveis que humanos, versões feitas por inteligência artificial. O esquete “Corte de Gastos” é brilhante e pontual em sua crítica situada em 2012, mas também interage assertivamente com a atualidade no campo do audiovisual. A presente e correta greve dos roteiristas e atores de Hollywood reivindicam seus poderes e direitos perante a ascensão das inteligências artificiais, visto que é uma ferramenta que “cria” textos de forma muito mais veloz que um humano e que pode fazer trabalhos de dublagem e atuação de forma mais barata e fácil que atores reais, sendo que, além de delegar a arte humana para os não-humanos, tira os empregos desses trabalhadores e faz com que os que se mantém empregados recebam menos que deveriam (CNN Brasil, 2023).

Posteriormente são apresentados no artigo os esquetes “Spoleto I” e “Spoleto – parte 2”, que oferecem uma crítica ao setor de fast food, retratando as pressões que esse setor coloca sobre os trabalhadores. Os funcionários são tão apressados pelo sistema fast que essa pressão cai também na clientela, que precisa ser ágil em sua escolha do que consumir para que os trabalhadores sejam ágeis no processo de realização, o que indica um ponto frágil nesse modo de produção. E as medidas tomadas para otimizar esse problema não é uma revisão dessa pressão, mas a substituição dos atendentes por totens de autoatendimento, e aqui podemos ver novamente uma conexão com a tendência de uma nova revolução industrial em direção aos computadores. A troca de pessoas pela tecnologia parece ser uma alternativa despreocupada em resolver problemas, focada somente na praticidade e no que dá um retorno lucrativo maior.

Outro esquete posto à mesa pelo artigo, “O táxi”, ilustra a experiência de uma funcionária de táxi que se esforça para encontrar clientes em um aeroporto, representando um trabalho que é executado sem transformação ou compreensão do ato e que também carece de sentido, em que a trabalhadora não conhece bem o próprio trabalho, visto que apenas entra em ação em momentos raros. Nesse momento os autores citam com pontualidade Lhuilier (2002), que conta que o trabalhador é posto em uma estante e retirado de lá para cumprir apenas uma pequena parte do seu trabalho, sem ter uma compreensão do todo, desumanizando e esvaziando o sentido de seu trabalho.

O vídeo “Promovido” revela as táticas usadas pelos empregadores para mascarar demissões como promoções, criando uma falsa sensação de sucesso profissional (MONTEIRO, RESENDE, 2023). O empregador não se responsabiliza no ato da demissão, na verdade falsifica uma realidade em que está dando uma oportunidade incrível de liberdade e possibilidades felizes para o então ex-funcionário. No mundo atual infelizmente não é raro observar alguém que tenha passado por algo semelhante, em que tudo é visto como uma oportunidade de crescimento, mesmo quando a situação é precária e infeliz.

O artigo conclui que, embora os esquetes do Porta dos Fundos possam ser usados como uma ferramenta não só de divertimento, mas de ensino eficaz para analisar as relações de trabalho, essa abordagem requer uma intervenção e mediação cuidadosas por parte do educador para garantir uma análise efetiva e crítica. O uso da arte é sempre bem vinda para refletir sobre as condições humanas contemporâneas e de outros momentos, trazem boas imaginações sobre o que pode vir no futuro e cenas absurdas que ocorrem ainda no nosso tempo. O trabalho dos autores do artigo de fazer essas análises certamente é magnífico, exalta e prestigia o audiovisual e a cultura, e fortifica as reflexões que pretendem ser transmitidas por meio da arte.

Referências:

Monteiro, J. A., & Resende, C. (2023). O trabalho contemporâneo por meio de esquetes do grupo porta dos fundos:: o audiovisual no processo de ensino e aprendizagem. Educação em Foco, 26(48).

 

*Graduando em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, integrante do Grupo de Pesquisa: Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP / PUC Minas.

**Pós-doutor em Psicologia pela PUC Minas e integrante do Grupo de Pesquisa: Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais – PsiTraPP / PUC Minas.

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