Cotidiano e Identidade na Clínica da Atividade e na Ergologia

Cotidiano e Identidade na Clínica da Atividade e na Ergologia

Por Igor Teuri Batista de Souza* e Rodrigo Padrini Monteiro**

Neste texto, vamos apresentar os principais pontos do artigo “Cotidiano e Identidade na Clínica da Atividade e na Ergologia”, publicado em 2018, na Revista do Departamento de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul. O manuscrito é de autoria de Carlos José Naujorks, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2011), mestre em Sociologia Política (1999) e psicólogo (1993) pela UFSC.

O artigo busca situar e relacionar os conceitos de Identidade e Cotidiano dentro das Clínicas do Trabalho, focalizando em duas abordagens: a Ergologia e a Clínica da Atividade, cujos principais representantes são Yves Schwartz e Yves Clot, respectivamente. O autor introduz o tema explicando que o foco das Clínicas do Trabalho se instala nos sentidos que os trabalhadores atribuem às situações concretas de trabalho e nas possibilidades de agir destes sujeitos. Para isso, consideram, dentre outros fatores, as relações interpessoais que ocorrem nos ambientes de trabalho e como os trabalhadores se posicionam nesses relacionamentos.

Naujorks (2018) discute o conceito de cotidiano, buscando referência em Heller (1988), e definindo-o como “[…] a dimensão das atividades corriqueiras, do dia a dia, o espaço por excelência da reprodução da ação humana” (p.34). O pesquisador ressalta que é no cotidiano que se encontra o espaço para agência, ou seja, para inovar e agir produzindo aquilo que foge ao prescrito.

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O autor faz uma breve apresentação das abordagens e metodologias da Clínica da Atividade e da Ergologia, o que se traduz em um ótimo modo para um primeiro contato com essas perspectivas. Para ele, ambas as abordagens partem da distinção trazida pela ergonomia francesa entre o trabalho real e o trabalho prescrito para desenvolver sua metodologia de análise da atividade, cada qual com seu foco. Enquanto o objeto de estudo da primeira é a atividade — entendida aqui como ação dotada de sentido — e a dimensão subjetiva da ação do trabalhador, a segunda foca na capacidade de agir dos sujeitos no ambiente de trabalho, observando o trabalho da perspectiva da atividade.

Para Naujorks (2018), enquanto a Clínica da Atividade se baseia metodologicamente na Análise da Atividade e no modo como os trabalhadores constroem significados e sentidos, o método da Ergologia se foca no gerenciamento que o sujeito faz entre as normas antecedentes (o prescrito) e as experiências de singularização que localiza na ação.

Naurjoks (2018) relaciona então o conceito de Cotidiano com as abordagens em questão e apresenta o cotidiano como algo heterogêneo e particular de cada ser, tendo, porém, uma hierarquia contextualizada sócio historicamente. “Dessa forma, o cotidiano é onde, na vida de cada um, a genericidade da vida social assume sua dimensão particular e é vivida nessa particularidade” (p.39). É na dimensão do Cotidiano que o trabalhador se apresenta e é apresentado ao trabalho real, àquilo que surge e é diferente do prescrito. É ali que ele deve gerenciar e criar estratégias. É no cotidiano onde os sentidos e significados são produzidos.

Já em relação ao conceito de Identidade, o pesquisador explora sua dimensão processual e traz o conceito não como algo fechado e estático, mas em constante desenvolvimento, um conjunto de movimentos afetivos e cognitivos. Assim como acontece com o Cotidiano, a Identidade assume um caráter de interface entre o particular e o social. Assim, a identidade se desenvolve através de percepções, emoções e pensamentos individuais, que se apoiam em categorias, valores e hierarquias construídas socialmente.

Existe, portanto, uma dimensão coletiva da identidade que é singular. Esse conceito se relaciona com a Clínica da Atividade na medida em que a atribuição de sentidos e significados perpassa o campo a identidade. Os sentidos são atribuídos levando-se em conta a história de vida do trabalhador, seu autoconceito e autoestima. Também é possível relacionar a Identidade com a Ergologia se considerarmos que, a atividade a qual busca analisar, lança mão de recursos identitários. Isso, porque

“[…] a coerência entre os sentidos atribuídos ao coletivo de trabalho e as regras do oficio e os sentidos atribuídos pelo sujeito à atividade no contexto relacionam-se diretamente com as possibilidades de um uso de si na atividade e, por conseguinte, de singularização no trabalho” (SCHWARTZ, 2000 apud NAUJORKS 2018. p.45).

Portanto, vemos que os conceitos de Identidade e Cotidiano são muito importantes dentro das abordagens da Clínica do Trabalho, conforme o autor demonstra em seu artigo. Apesar de não constituírem conceitos centrais nas teorias analisadas, essas categorias são essenciais para uma melhor compreensão das escolas de pensamento, uma vez que atravessam transversalmente os conteúdos tratados por elas. Por esse motivo, recomendamos a leitura do artigo na íntegra.

Referências

NAUJORKS, Carlos José. Cotidiano e Identidade na Clínica da Atividade e na Ergologia. PSI UNISC, v. 2, n. 1, p. 33-47, 2018. Acesso em: 12 set. 2019. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/psi/article/view/9923 doi: https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.9923

* Igor Teuri é graduando no curso de Psicologia da PUC Minas e bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais

** Rodrigo Padrini é psicólogo na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, mestre e doutorando pela PUC Minas e integrante do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais

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