Personalidade e Burnout: um estudo internacional

Personalidade e Burnout: um estudo internacional

Por Marina Freitas Alves da Costa* e Rebecca Magalhães Monteiro**

O presente texto constitui uma resenha do artigo intitulado “Personality and burnout among primary care physicians: an international study”, com autoria de Paul A. Brown, do Departamento de Saúde Comunitária e Psiquiatria, University of the West Indies, Kingston, Jamaica; Morgan Slater, do Departamento de Medicina Familiar e Comunitária, St. Michael’s Hospital, Toronto, ON, Canadá; e Aisha Lofters, do Departamento de Família e Medicina Comunitária, University of Toronto, Toronto, ON, Canadá.

Os autores pontuam que a Síndrome de Burnout tem uma etiologia multifatorial, envolvendo questões ambientais, como carga de trabalho e desequilíbrio entre responsabilidades pessoais e profissionais, além de outros fatores psicológicos, incluindo a personalidade (Brown, Slater & Lofters, 2019).

No que diz respeito à personalidade, o modelo mais aceito é o do Big Five – Cinco Grandes Fatores da Personalidade. Nesse modelo, a personalidade é compreendida por meio de cinco dimensões, a saber: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo.

De acordo com o artigo, várias associações já foram feitas entre personalidade e esgotamento do profissional médico (Brown, Slater & Lofters, 2019), porém, essa correlação com médicos de atenção primária carece de pesquisas específicas. Assim, o artigo objetivou avaliar a associação entre as dimensões da personalidade e o esgotamento de médicos de atenção primária do Canadá e Jamaica.

Para tanto, contactou todos os médicos de atenção primária que possuíam um e-mail vinculado ao Hospital St. Michael (Ontário, Canadá) e à Universidade das Índias Ocidentais (Kingston, Jamaica). A amostra foi formada por 48 médicos que responderam a algumas questões em relação a dados demográficos (idade, sexo, ambiente de prática, e número de horas semanais trabalhadas), bem como esgotamento médico e personalidade.

Para avaliar o esgotamento médico, utilizou-se a escala MBI-HSS (Maslach Burnout Inventory – Human Services Survey), que visa avaliar a realização, exaustão emocional e despersonalização. Já para avaliar a personalidade, utilizou-se o BFP (Bateria Fatorial de Personalidade), que é um inventário de personalidade baseado na teoria dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade. Considerou-se, para a análise dos dados, que aqueles médicos que obtiveram baixa pontuação em realização e alta pontuação em exaustão e despersonalização, mensurados pelo MBI-HSS, sofrem de Burnout (Brown, Slater & Lofters, 2019).

Os resultados encontrados evidenciaram que o aumento da idade dos médicos está associado ao aumento da conscienciosidade e diminuição do neuroticismo. Além disso, o aumento dos anos de prática também se associa a uma diminuição do neuroticismo.

Já em relação às correlações entre as dimensões da personalidade e o Burnout, os autores averiguaram, com os dados obtidos na pesquisa, que o neuroticismo se associa negativamente à realização, ou seja, quanto maior o neuroticismo menor a realização. O neuroticismo também se correlacionou com exaustão e despersonalização, porém essa correlação foi positiva, isto é, quanto maior o neuroticismo maior a exaustão e despersonalização. No que se refere à amabilidade e conscienciosidade foram encontradas correlações positivas com a realização e negativas com a despersonalização.

Em suma, a pesquisa identificou o Burnout como uma síndrome comum entre médicos de atenção primária e apontou as dimensões neuroticismo, amabilidade e conscienciosidade da personalidade como correlacionadas com o esgotamento dos médicos que compuseram a amostra.  Nesse sentido, é possível afirmar que os médicos que possuem um maior esgotamento também são aqueles que apresentam uma maior instabilidade emocional, bem como uma diminuição da empatia frente aos demais e uma perda de persistência para alcançar seus objetivos.

Mesmo não se tratando de uma pesquisa no contexto brasileiro, é possível reconhecer alguns riscos para o Burnout e, a partir disso, pensar em estratégias de enfrentamento para essas pessoas e suporte ou grupo de apoio que visem diminuir os impactos de determinados traços de personalidade.

Referência:

Brown, P., Slater, M. & Lofters, A. (2019). Personality and burnout among primary care physicians: an international study. Psychol Res Behav Manag., 12, 169–177. doi: 10.2147/PRBM.S195633

* Marina Freitas Alves da Costa é graduanda no curso de Psicologia da PUC Minas, bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais e assistente terapêutica de crianças com atraso no desenvolvimento com base no Modelo Denver de Intervenção Precoce.

* Rebecca Monteiro é psicóloga pela PUC Minas, mestre e doutora em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. É professora na PUC Minas e Coordenadora do LEPAP (Laboratório de Estudos e Pesquisa em Avaliação Psicológica PUC Minas/Coração Eucarístico) 

Deixe uma resposta