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Programas de bem-estar no trabalho são um desperdício de dinheiro?

Programas de qualidade de vida – ou bem-estar – no trabalho podem ser contraditórios e questionáveis sob determinados pontos de vista. Atuando, muitas vezes, como intervenções auxiliares para proteger e promover a saúde, e prevenir o adoecimento, muitas ações acabam sendo destinadas aos sintomas e aos trabalhadores, individualmente, não atuando na origem de eventuais problemas. Ou seja, a organização e condições de trabalho, assim como alguns paradoxos da própria instituição, costumam ficar de fora.

Um estudo publicado em 2018 pelo National Bureau of Economic Research e discutido no blog Research Digest (The British Psychological Society), buscou medir o custo-benefício de um programa dessa natureza. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, calcula-se, anualmente, um gasto de 225 bilhões de dólares por adoecimento e acidentes no trabalho. Poderia um programa desse tipo ajudar a reduzir esse custo? Parece que não.

Realizada na Universidade de Illinois, nos EUA, a pesquisa alcançou um universo de aproximadamente 5 mil pessoas do staff. Desse público, um terço dos participantes foi incluído de forma aleatória em grupo controle, não participando de outras atividades. Os demais foram convidados para serem avaliados e assumir as atividades de bem-estar disponíveis, ao longo de dois semestres. Ao término do ano acadêmico, todos os participantes completaram um questionário similar ao respondido no início do estudo.

De acordo com a pesquisa, comparado ao grupo de controle, que não participou das atividades, o grupo participante das ações não apresentou uma diferença significativa no número de dias de licença do trabalho por motivo de saúde – uma redução, como seria de se esperar. Além disso, este grupo não apresentou gastos menores em medicamentos e visitas ao hospital. De modo geral, o estudo sugere não existir um “retorno financeiro positivo do investimento” nesses programas, pelo menos no caso pesquisado e na forma como foi conduzido.

Esses resultados indicam a necessidade de questionar a ideia preconcebida de que programas de qualidade de vida em empresas produzem, por si só, impactos positivos na saúde dos trabalhadores. Como se a sua implementação resolvesse alguns problemas por si só, desconsiderando a realidade do trabalho e a complexidade das situações laborais.

BPS Research Digest: First randomised-controlled trial of an employee “Wellness Programme” suggests they are a waste of money

National Bureau of Economic Research: What Do Workplace Wellness Programs Do? Evidence from the Illinois Workplace Wellness Study

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