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Tecnologias da informação e comunicação e formação do psicólogo clínico

Juan Linhares da Mata * e Rodrigo Padrini Monteiro **

 

Resumo: As novas tecnologias da informação e da comunicação (TICs) desafiam e agregam vantagens à formação de profissionais de todas as áreas do conhecimento. No presente artigo, serão destacadas as influências das TICs na formação dos psicólogos em geral e dos psicólogos especificamente no contexto clínico. No mundo contemporâneo e tecnológico, os psicólogos precisam aprender a gerenciar e integrar vários espaços de forma equilibrada e inovadora. Ou seja, estes profissionais são demandados a construírem novos contextos formativos, mediados pela linguagem digital. Ainda, existem novas redes de aprendizagem, que podem viabilizar o desenvolvimento de habilidades terapêuticas ao psicólogo em formação. Conclui-se que os cursos de formação de psicólogos precisam prever o trabalho com estes novos espaços de contato com a realidade virtual. Evidencia-se que as universidades e seus educadores precisam planejar e flexibilizar, no currículo de formação em Psicologia, o tempo de presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual, visando integrar de forma criativa e inovadora esses espaços para preparar o profissional da Psicologia para atuar nessa realidade.

 

Palavras-chave: Tecnologia; Formação; Psicólogo

 

O presente estudo tem como objetivo realizar uma resenha crítica do artigo entitulado “Tecnologias da informação e comunicação e formação do psicólogo clínico”, realizado por Stoque (2016), que tem como premissa principal o impacto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na rotina dos psicólogos, como também nos diversos âmbitos envolvendo a psicologia, como as supervisões de casos clínicos e o ambiente de formação destes. Em um primeiro momento, vislumbra-se a contextualização sobre as TICs, compondo estas como mecanismos de reprodução, processamento e distribuição de informações, tanto para pessoas quanto para instituições. É um fenômeno contemporâneo e presente, que possibilita estimulação na forma em que os indivíduos se relacionam.

Tais tecnologias são algo emergente na sociedade e que, consequentemente, implicam em uso cuidadoso por profissionais que as utilizam, incluindo assim os Psicólogos, principalmente em decorrência dos aspectos éticos e morais, como também seus impactos subjetivos e sociais em caso de mau uso. Ademais, Segundo Coll & Monereo (2010), as TICs, em seu aspecto educacional e acadêmico carecem de enfoque dos pesquisadores, em decorrência da atualidade destas ferramentas. Diante dessa perspectiva, essa prática possibilita a inovação em relação aos atendimentos verticalizados e tradicionais realizados nas academias, como também minimiza as críticas nesse sentido.

Consoante a isso, a autora traz como o uso de computadores se demonstra uma ferramenta de exponencial auxílio e como as TICs se apresentam como uma forma de suporte no ensino e minimização de complicadores cognitivos atuais, relacionados ao ensino tradicional. Ademais, segue-se benéfica a articulação entre TICs e o ensino tradicional, possibilitando a nova organização do ambiente educacional e a introdução de novas informações por meio das TICs. Sobretudo, também é significante a otimização de tempo e contribuição para o bem-estar, seja dos discentes ou dos pacientes, frente à qualidade de vida saudável quando observado o presencial e o virtual. Além disso, a autora trabalha o quão importante se faz que a Psicologia passe a se gerenciar nesse ambiente, de forma produtiva e saudável, capacitando inovação e equilíbrio na formação destes profissionais.

Estas tecnologias ensejam o desenvolvimento do ambiente acadêmico de capacitação, otimizando o gerenciamento dos psicólogos clínicos em seus contextos de trabalho, como também nas demais adversidades enfrentadas em seus diversos contextos. Em detrimento dessa premissa, a autora cita que, segundo Masseto (2003), a mudança na postura do profissional e do professor de Psicologia são requeridas para adaptação nesse novo contexto emergente. O aumento do acesso, do alcance e da socialização das informações com o uso das TICs, em um ambiente acadêmico, ou clínico, demonstra uma positiva ruptura geográfica dos contextos, capacitando maior acessibilidade no consultório e proporcionando maior êxito nas formações em psicologia, quando utilizadas corretamente e com produtividade.

Em outro momento, a autora enfatiza a necessidade do psicólogo desenvolver suas posturas éticas e empáticas no atendimento terapêutico, demonstrando interesse e preocupação com o paciente. A análise de caso deve ser feita de forma empática e resolutiva, sempre que possível, de acordo com ela. Contudo, nota-se que o artigo trabalha bastante a formação do terapeuta cognitivo, em sua abordagem e suas premissas, todavia ressalto a crítica de que todos os terapeutas, em suas mais diversas abordagens, devem trazer o virtual para o mais próximo do presencial possível, objetivando sempre a possibilidade de auxílio do paciente, através de sua linha teórica e postura ética indispensável. Reverbera-se que o artigo em análise foi construído pré período pandêmico, ocorrido ao fim do ano de 2019 e transpondo o ano de 2020 e 2021, o que demonstra uma visão restrita das possibilidades terapêuticas do atendimento psicológico na contemporaneidade. Outrossim, depreende-se que a citação de conteúdo bibliográfico escasso para a temática tratada se deu em virtude do período pré pandêmico e anterior ao isolamento social, tendo em vista a existência atual de 284 estudos no Portal CAPES, relacionadas às TICs e a Psicologia. Conquanto, em detrimento do estudo ter sido realizado em 2016, demonstra-se a inenarrável contribuição para a adaptação a esta nova realidade.

Nesse sentido, são muitas as alternativas possíveis, mas muitos os desafios ainda presentes. Em aspecto atual, vale ressaltar que Silva (2020) traz em sua contribuição teórica a dificuldade que a pandemia da COVID-19, relacionadas à conjugalidade, cooparentabilidade e parentalidade, trouxe para as práticas do terapeuta familiar. Além disso, Silva (2020) ressalta que a posição do terapeuta, em ambiente virtual, é fundamental para lidar com os estressores decorrentes desta situação, como fazem toda a diferença, prevenindo que o adoecimento seja estabelecido.

Além do narrado, portais de realização de psicoterapia e a sua necessidade de criptografia demonstram-se como ferramentas inevitáveis nos atendimentos, segundo a autora, em decorrência da necessidade de assegurar um ambiente sigiloso e ético, que almeje passar segurança, confiabilidade, regulações éticas e competência tecnológica dos usuários e, principalmente, do Psicólogo (Rousmaniere, Abbass & Frederickson, 2014).

As TICs, no contexto da Psicologia, possibilitaram uma maior acessibilidade ao público, apesar de isso não incluir a população em sua totalidade, em decorrência das desigualdades sociais e capital de renda baixos, mas também demonstra uma dificuldade na falta de familiaridade com estas ferramentas. O terapeuta em formação deve desenvolver as habilidades necessárias para se familiarizar com o instrumento e apreender conteúdos relacionados a esse, a fim de minimizar as adversidades em sua utilização. Nessa direção cabem investimentos para conhecimento das plataformas e possibilita a parceria entre prática teórica e apresentações multimídias, gerando a criação de fóruns, chats e outros meios para disseminação de novas ideias e auxílios.

Além disso, tais tecnologias inovaram o ambiente acadêmico, com a possibilidade de realização de supervisões ao vivo, como também assim o fizeram com as práticas psicológicas vigentes, necessitando que os profissionais identificassem seus próprios viesses e valores, muitas vezes através da avaliação de vídeos e sessões realizadas (STOQUE, 2016)

Levando em consideração todos os aspectos tratados anteriormente pela autora, e os argumentos apresentados, fundamenta-se necessária a apresentação da Resolução, emitida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), de nº 11/2018, que instituiu a possibilidade de atendimentos psicológicos, em ambiente virtual, realizado por meio das TICs, e revogou a Resolução CFP nº 11/2012, reforçando a ideia apresentada pela autora e demonstrando a importância dessa modalidade emergente.

Por fim, a Psicologia tende a ser repensada pela interação entre a internet e os atendimentos, como também pelas supervisões e processos de formação, viabilizando uma flexibilização de currículos e criando, segundo Stoque (2016), as salas do futuro, relacionando às TICs e a Psicologia. As tecnologias em junção com a Psicologia vieram para ficar.

 

 

Referências:

– Coll, C.; Monereo, C. (2010). Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação., Porto Alegre: Artmed.

– Conselho Federal de Psicologia. (2005). Resolução CFP nº 011/2018. Regulamenta a prestação de serviços psicológicos realizados por meio de tecnologias da informação e da comunicação e revoga a Resolução CFP nº 11/2012.

– Masetto, M. T. (2003). Seleção de conteúdos significativos para uma disciplina. In: Masetto,M .T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus.

– Rousmaniere, T.; Abbass, A.; & Frederickson, J. (2014). New Developments in technology-Assisted Supervision and Training: A Practical Overview. Journal of Clinical Psychology: In Session, 70 (11), 1082-1093.

– Silva, I. M. da et al. (2020). As relações familiares diante da COVID-19: recursos, riscos e implicações para a prática da terapia de casal e família. Pensando fam. Porto Alegre.

– Stoque, F. M. V. et al. (2016). Tecnologias da informação e comunicação e formação do psicólogo clínico. (v. 12, n. 2, p. 83-90). Rio de Janeiro: Rev. bras.ter. cogn.

 

 

 

*Graduando em Psicologia pela PUC Minas e integrante do Grupo de Pesquisa PsiTraPP/PUC  Minas.

**Doutor em Psicologia pela PUC Minas e integrante do Grupo de Pesquisa PsiTraPP/PUC  Minas.

 

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