O método de Instrução ao Sósia como uma possibilidade para os estudos envolvendo seres humanos

O método de Instrução ao Sósia como uma possibilidade para os estudos envolvendo seres humanos

Milena Evellyn Pereira Drummond[1]; Rafael Nascimento de Castro[2]; João César de Freitas Fonseca[3]

A presente resenha refere-se ao ensaio teórico “O Método de Instrução ao Sósia como uma Possibilidade para os Estudos Envolvendo Seres Humanos” de autoria de Vanessa Carla de Freitas, mestre em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo, publicado em dezembro de 2018, pela Revista Cadernos de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Buscando responder ao problema “O Método de Instrução ao Sósia pode ser utilizado no estudo com seres humanos?”, a autora divide o ensaio em quatro tópicos: A instrução ao sósia do passado ao presente; Os processos de aplicação tradicional do método; Autoconfrontação; e O método de instrução ao sósia na prática.

Originado na Itália, em 1970, idealizado pelo médico Yvar Oddone, a instrução ao sósia, constitui-se em uma técnica que possibilita conhecer as realidades dos trabalhadores e do trabalho a partir da indagação: “Suponha que eu me pareça idêntico a você fisicamente e que o substituirei no seu trabalho, que informações eu devo saber para que ninguém perceba a diferença?” (ODDONE; RE; BRIANTE, 1981, apud FREITAS, 2018). A autora aponta que essa pergunta possibilita ao trabalhador uma reflexão sobre o seu fazer e o valor de sua atividade, bem como proporciona a descoberta de novos sentidos sobre essa, e permite ao pesquisador entender como este pesquisado aplica sua subjetividade, suas experiências, nas atividades regidas por regras e normas determinadas para que esta se torne possível, ou seja, “quais escolhas e mudanças ele realiza para executar o trabalho” (p.2).

Freitas (2018) relata que, por tratar-se de um método de comunicação e formação mútua, o entrevistador (sósia) não é apático, ele deve buscar entender os caminhos da atividade do trabalhador pesquisado (instrutor), e o processo de análise dá-se por uma coanálise, onde o entrevistado participa autoconfrontando-se com sua percepção sobre seu trabalho. Como os sujeitos envolvidos na aplicação desta técnica estão em um processo contínuo de transformação, os resultados dos dados são flexíveis, isto é, mudam ao longo do tempo. A autora salienta, ainda, que este método deve ser utilizado junto a outras técnicas de coleta de dados.

Freitas (2018) realiza uma explanação de como o método deve ser realizado, desde o momento anterior a sua aplicação propriamente dita até o momento posterior, apontando detalhes que proporcionam uma maior qualidade na sua realização. Salienta que após a instrução, é necessário que seja perguntado ao instrutor o que o exercício provocou nele, incentivando, dessa forma, a reflexão sobre o processo vivenciado.

No tópico de autoconfrontação, a autora o define como o processo de colocar o sujeito diante de si mesmo, de forma a provocar uma reflexão sobre o que esse sujeito pensa sobre o que ele mesmo narrou, atribuindo, dessa forma, sentido à sua atividade laboral. Descreve as duas formas de realização desse recurso metodológico, a autoconfrontação simples, onde o sujeito confronta-se consigo mesmo, que ocorre diante da transcrição de sua própria fala, e autoconfrontação cruzada, que ocorre diante do debate a partir das falas dos sósias.

No último tópico, Freitas (2018) chama a atenção para a flexibilidade da técnica, dizendo que os caminhos metodológicos mais adequados devem ser analisados, adequados e avaliados, sem, é claro, negligenciar o rigor científico. Ressalta que o êxito no processo de transformação da atividade reside na capacidade de estimular a confrontação. Em seguida descreve uma prática de realização do método com professores do curso de administração da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, executada de modo individual e precedida de uma entrevista semiestruturada.

A autora finaliza o ensaio sugerindo próximos estudos que mapeiem como a Instrução ao Sósia vêm sendo utilizada nas ciências humanas e sociais, bem como suas variações e assuntos pesquisados. Evidencia, ainda, a precariedade de produções acadêmicas que descrevam como o método deve ser aplicado, defendendo que melhores descrições podem auxiliar pesquisadores que optem pela utilização da técnica.

REFERÊNCIA

FREITAS, Vanessa Carla de. O Método de Instrução ao Sósia como uma Possibilidade para os Estudos Envolvendo Seres Humanos. Cadernos de Administração (PUCCAMP), v. 12, p. 1-19, 2018. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/caadm/article/view/36018>. Acesso em: 23, nov. 2020.

Leia também:

PEREIRA, M. de S. MOVIMENTO OPERÁRIO ITALIANO, IVAR ODDONE E A INSTRUÇÃO AO SÓSIA | Italian Workers Movement, Ivar Oddone and the Instruction to the Double. Trabalho &amp; Educação[S. l.], v. 26, n. 3, p. 13–25, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/9731. Acesso em: 26 nov. 2020.


[1] Graduanda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais.

[2] Psicólogo, Especialista em Gestão de Pessoas e Mestrando em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atualmente é bolsista no Programa de Operadores de Alto Desempenho (POAD).

[3] Psicólogo, Especialista em Gestão de Recursos Humanos, Mestre em Psicologia Social e Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professor adjunto na Faculdade de Psicologia da PUC Minas.

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