As categorias de sentido, sentido pessoal e sentido subjetivo: sua evolução e diferenciação na teoria histórico-cultural

As categorias de sentido, sentido pessoal e sentido subjetivo: sua evolução e diferenciação na teoria histórico-cultural

Por Igor Teuri Batista de Souza* e Rodrigo Padrini Monteiro**

Os conceitos de sentido e significado são, por vezes, associados ao processo de trabalho e não são incomuns na literatura da psicologia. O presente texto busca apresentar, de forma breve, os principais pontos de um artigo que discute a evolução do conceito de sentido à luz da teoria histórico-cultural. Fala-se do artigo chamado “As categorias de sentido, sentido pessoal e sentido subjetivo: sua evolução e diferenciação na teoria histórico-cultural”, de Fernando González Rey (2007).

Rey foi doutor em psicologia pelo Instituto de Psicologia Geral e Pedagógica de Moscou e doutor em ciência pelo Instituto de Psicologia da Acadêmica de Ciências da União Soviética. Foi presidente da sociedade de psicólogos de Cuba (1986-1989), decano da Faculdade de Psicologia da Universidade de Havana (1995-1990) e vice-reitor desta mesma Universidade (1990-1995). No Brasil, atuou como professor titular e pesquisador do Centro Universitário de Brasília, bem como professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília. Faleceu em março de 2019.

O artigo explica que, na perspectiva histórico-cultural, o conceito de sentido foi primeiramente abordado por Vygotsky, na parte final de sua obra, e atenta para o fato de que as evoluções do conceito, tanto na escola soviética quanto nas academias ocidentais, se centrarem apenas em partes do pensamento de Vygotsky, como a mediação semiótica. Busca mostrar que o pensamento de Vygotsky deve ser visto aliado ao resto de sua produção teórica, indicando que os entendimentos atuais sobre o conceito de sentido deixaram de lado a tentativa da sistematização de uma nova psique e se focaram no papel central da linguagem.

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O autor demonstra a evolução do conceito de sentido na obra de Vygotsky, ressaltando sua aparição tardia e a tentativa do autor em sistematizar um novo tipo de integração da vida psíquica do sujeito. Rey (2007) mostra que foi através da categoria de sentido que o autor soviético supracitado conseguiu relacionar de forma ímpar a parte cognitiva e afetiva do sujeito. O sentido seria uma formação de vários aspectos psicológicos do sujeito, e Rey afirma que os afetos entram nesses aspectos.

Rey mostra pontos da obra de Vygotsky em que ocorre essa tentativa de aproximação de intelecto e afetividade, bem como o esforço para descrever um funcionamento holístico da psique. Demonstra que uma pequeno equívoco de tradução em uma obra de Vygotsky pode ter feito que as categorias de sentido e significados se confundissem completamente nas evoluções das obras ocidentais. Rey desenvolve ainda um momento da teoria Vygotskiana onde este atribui um caráter gerador também à psique, retirando-a do lugar de sujeição total ao social. Mostra que os significados são partes do significado, que é mais amplo e agrega vários aspectos.

Apresenta então a evolução do conceito de sentido nas academias soviéticas, mostrando que se aproximam mais do conceito de internalização criado por Vygotsky. Demonstra como o conceito de “Sentido Pessoal” em Leontiev não deve ser visto como uma continuação e evolução do conceito de sentido em Vygotsky.

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Assim, como proposição central deste artigo escrito por Rey, ele parte do conceito de “Sentido” desenvolvido à partir da perspectiva de Vygotsky, no final de sua carreira, e propõe que para o estudo da psique humana, sob o ponto de vista histórico-cultural, o conceito de sentido subjetivo deve ser tomado como central. O autor mostra as raízes do conceito desenvolvido na teoria de Vygotsky e como o desenvolveu até chegar ao entendimento atual. O conceito de sentido subjetivo seria uma maneira de resgatar a questão da subjetividade dentro da perspectiva histórico-cultural.

Rey (2007) cita outra obra sua (REY, 2002) para definir o sentido subjetivo como “relação inseparável do emocional e o simbólico, onde um evoca ao outro sem ser a sua causa” (p. 168). Dessa forma, ele dá uma ênfase ao poder ontológico do conceito e tira o peso da questão da internalização como questão ontológica central da psique humana. Afirma, então, que “a subjetividade, portanto, é uma produção humana, não uma internalização” (REY, 2007. p.173).

O autor finaliza retomando a importância da elaboração do conceito de sentido de Vygotsky como um salto qualitativo em sua teoria. Aponta para a tendência geral da psicologia soviética em dar um peso maior à questão do social e cultural, colocando-a na gênese da personalidade do sujeito. Ressalta que, mesmo que Leontiev tenha usado o conceito de sentido, não se pode pensar em uma continuidade da categoria pensada por Vygotsky que, com a criação deste conceito, quebrava pela primeira vez com uma certa linearidade estruturada anteriormente pelo que chamou de internalização.

Entender o conceito de sentido subjetivo permite estudar como a vida social reflete no ser humano, sem pensar, porém, de modo linear. Retoma a subjetividade do sujeito como geradora e que cria em relação com o social. Contudo, o conceito de sentido subjetivo não deve ser pensado dentro do pensamento de Vygotsky. Apesar de ter suas origens no conceito de sentido desenvolvido pelo autor soviético, trata-se um conceito distinto, porque dá ênfase à

“[…] unidade do simbólico e emocional como via de integração da experiência social do sujeito, o que não acontece apenas por experiências objetivas pontuais, e muito menos norteadas por objetos, mas representam novas produções em relação com as experiências vividas, as que são inseparáveis da organização subjetiva dos sujeitos e dos múltiplos contextos em que acontece sua vida social” (REY, 2007. p.175).

Por fim, o autor ressalta que é imprescindível uma elaboração teórica do conceito de sentido, visto que as recentes e diversas interpretações do conceito pela psicologia e a importância que este tem tomado recentemente podem causar interpretações incorretas ou incompletas.

Referência

REY, Fernando González. As categorias de sentido, sentido pessoal e sentido subjetivo: sua evolução e diferenciação na teoria histórico-cultural. Psicologia da Educação. Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação. ISSN 2175-3520, n. 24, 2007. Acesso em: 12 out 2019. Disponível em: https://bit.ly/375lF0z

* Igor Teuri é graduando no curso de Psicologia da PUC Minas e bolsista de iniciação científica do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais

** Rodrigo Padrini é psicólogo na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, mestre e doutorando pela PUC Minas e integrante do grupo de pesquisa Psicologia, Trabalho e Processos Psicossociais

1 comentário até agora

Davi Pinheiro Publicado em19:04 - 10/12/2020

Super interessante seu artigo, parabens! também me interesso sobre existencialismo, pela busca sobre o sentido da vida. Acredito ter encontrado a resposta definitiva com base na Teoria do Infinito Bilateral que rechaça a Teoria do Big Bang, explico melhor em meu artigo: https://davipinheiro.com/qual-o-sentido-da-vida/

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