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Yves Clot e a Clínica da Atividade

Dentre as perspectivas críticas da Psicologia do Trabalho, a Clínica da Atividade é uma das que vêm ganhando maior espaço no Brasil somente nos últimos anos. Com a publicação de “A função psicológica do trabalho” em 2006 e “Trabalho e poder de agir” em 2010, a obra de Yves Clot e colaboradores tem sido cada vez mais utilizada quando o assunto é a análise das relações entre trabalho, saúde e subjetividade.

Assim como as demais abordagens clínicas do trabalho, a Clínica da Atividade se desenvolve a partir da década de 1980, se alimentando, principalmente, de duas correntes da tradição da psicologia do trabalho francesa: a psicopatologia do trabalho e a ergonomia, e entende trabalho além de sua institucionalização econômica, ou seja, o emprego formal como conhecemos.

O trabalho é elemento central de análise e intervenção, já que é o ponto de conexão social, histórico, material e objetivo entre os indivíduos, sendo a atividade, prática e psíquica, sede de investimentos vitais do sujeito, em um movimento de apropriação de um meio de vida e transformação dos objetos do mundo. Segundo Clot (2010b), “qualquer trabalho é uma atividade dirigida, ao mesmo tempo, pelo sujeito, pela tarefa e para os outros” (p.144).

Atuante no Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM) em Paris, Clot – filósofo e psicólogo – foi influenciado principalmente pelo trabalho do médico italiano Ivar Oddone, pelas reflexões da psicologia sócio histórica trazidas por Lev Vygotsky, Alexei Leontiev e Alexander Luria, e algumas contribuições do linguista russo Mikhail Bakhtin, além das reflexões sobre a noção de saúde do filósofo Georges Canguilhem.

Para Batista e Rabelo (2013), o psicólogo sob essa orientação tem um papel preciso: “criar as condições necessárias para o processo de análise da atividade pelos trabalhadores, recusando o lugar de expert na análise do trabalho” (p. 2).

Ou seja, sua disciplina pretende, acima de tudo, ser um instrumento de transformação dos contextos de trabalho, através da análise conjunta da atividade.

A metodologia na Clínica da Atividade busca possibilitar que “os trabalhadores sejam capazes de transformar seu ofício, aumentando assim seu poder de agir” (BATISTA; RABELO, 2013, p. 2). Dessa forma, os métodos são dispositivos de intervenção que vão de encontro a esse objetivo, favorecendo o acesso dos sujeitos ao real da atividade. Dentre eles, os mais conhecidos são: a instrução ao sósia e a autoconfrontação, simples e cruzada.

Busca-se, por meio do diálogo, utilizar a controvérsia como recurso para o desenvolvimento da atividade, do debate que favoreça deslocamentos e produção de novas elaborações, tanto por parte dos protagonistas do trabalho como do pesquisador (Silva, 2014).

Para o professor Yves Clot, a discussão sobre o trabalho bem feito e os seus critérios cria o conflito que quebra o monólogo do pensamento. O centro da Clínica da Atividade está na regeneração e fundação do coletivo de trabalho. Trata-se de estabelecer uma performance dialógica para chegar a algo que não havia sido pensado antes.

Os profissionais devem estar envolvidos pessoalmente em atividades de observação e de interpretação da própria situação. “Nesse caso, o objetivo é que eles se liberem, tanto quanto possível, de suas maneiras habituais de pensar e dizer suas atividades” (Clot, 2010b, p. 37).

Pessoalmente, tive a sensacional experiência de conhecer Yves Clot pessoalmente no terceiro Colóquio Internacional de Clínica da Atividade, realizado na Universidade de São Paulo (USP) entre os dias 19 e 21/10 de 2016.

Para conhecer mais sobre essa perspectiva, deixo algumas dicas de leitura:

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