Não é de hoje que nos estressamos no trabalho e vivemos aquela sensação de estar acabado. O desgaste emocional e físico, a falta de realização pessoal, a tensão constante e a desilusão sempre estiveram presentes em diferentes níveis nas atividades profissionais. No entanto, apenas nas últimas décadas tem sido discutido um quadro sintomático específico deste tipo de estresse ocupacional.
A Síndrome de Burnout, ou, síndrome do esgotamento profissional, é um transtorno psíquico relacionado à exaustão emocional e ao comprometimento da realização pessoal no trabalho, com sintomas físicos e emocionais, resultado de estresse crônico do cotidiano de algumas atividades.
Burnout – termo adotado do inglês que significa queima, exaustão ou esgotamento -, é o efeito, a consequência ou, ainda, o sinal evidente de um estado prolongado de estresse. O psicólogo alemão/norte americano Herbert Freudenberger (1926-1999) foi um dos primeiros a descrever os sintomas da exaustão profissional e desenvolver o conceito na década de 1970.
Do esgotamento físico e mental, decorre a irritação, a ansiedade, a raiva e a tristeza, assim como o surgimento de sintomas psicossomáticos como: dores de cabeça, úlceras, insônia, pressão alta e dores musculares.
No ambiente ocupacional, o desinteresse pelo trabalho, a falta de entusiasmo e a auto avaliação negativa, costumam ser sinais de sua presença. Além disso, a queda da produtividade, da qualidade do trabalho e o aumento do número de faltas e licenças médicas são consequências observáveis nas organizações.
Tipicamente associada à categoria dos professores, médicos e enfermeiros, a síndrome acomete principalmente os trabalhadores envolvidos em atividades que exigem relacionamento interpessoal e pressão constante, como profissionais da área de saúde, educação, segurança e atendimento ao público de modo geral. O seu desenvolvimento é um processo gradual de desgaste.
Além dos comportamentos já mencionados, considera-se fundamental para o diagnóstico a observação de três dimensões de sintomas: a exaustão emocional – a falta de recursos, de energia e o pessimismo -, a despersonalização – indiferença no relacionamento interpessoal e distanciamento afetivo -, e a baixa realização pessoal – insatisfação consigo mesmo e com os resultados obtidos no trabalho.
De acordo com Carlotto (2002), “suas causas são uma combinação de fatores individuais, organizacionais e sociais” (CARLOTTO, 2002, p.24), e sua análise não deve ser diferente, compreendendo a interação destas perspectivas.
No entanto, no que salta aos olhos do grande público, faço uma crítica relevante.
Após uma breve pesquisa nos artigos científicos disponíveis e matérias de revistas sobre o tema, é interessante notar a predominância de recomendações para o tratamento individual. Parece que leio o seguinte: a origem do problema é coletiva, porém, a solução é individual.
Uma vez diagnosticada a síndrome, são sugeridos frequentemente: psicoterapia, uso de medicamentos antidepressivos, práticas de meditação, técnicas de relaxamento, prática de exercícios físicos e mudanças no estilo de vida.
Não posso deixar de observar a ausência de críticas a determinadas organizações e condições do trabalho que provocam ou pelo menos influenciam o surgimento deste tipo de transtorno. Uma busca superficial nos mecanismos de pesquisa lhe mostrará o que digo. Rapidamente anotamos os sintomas, nos reconhecemos nas condições estressoras citadas por muitos artigos e somos encaminhados a um tratamento individual.
Parece haver, como em muitas análises no mundo do trabalho, uma forte tendência individualizante dos fatos. Não é a sua empresa que estabelece prazos inalcançáveis, que trata a educação como uma mercadoria ou não lhe oferece estrutura decente para trabalhar. É você que anda estressado demais e precisa aprender a relaxar. Durma bem, alimente-se e descanse um pouco. Não tem nada de errado por aqui.
Ironias à parte, estabelecer quadros sintomáticos é fundamental para reconhecermos o adoecimento no trabalho, no entanto, não podemos deixar escapar aos nossos olhares atentos todos os fatores envolvidos e colocar o fardo no colo dos sujeitos acometidos.
De forma alguma considero as medidas recomendadas dispensáveis, pelo contrário, são essenciais para enfrentar uma síndrome que destrói o nosso vigor pessoal e profissional.
Entretanto, pedir a um trabalhador que se trate fora da organização e volte curado, é como tirar um peixe em pânico de um mar cheio de tubarões, acalmá-lo, lhe ensinar algumas técnicas avançadas de fuga de predadores e, poucos dias depois, lhe devolver ao mesmo mar de onde veio.
Como afirma Bendassolli, “se o trabalho está doente, não basta curar o sujeito, mas intervir no modo como aquele é organizado socialmente e como a atividade é levada a cabo” (BENDASSOLLI, 2011, p.90).
Referências
BENDASSOLLI, Pedro F. Mal-estar no trabalho: do sofrimento ao poder de agir in Revista Mal-estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. X – No 1 – p.63 – 98 – mar/2011.
CARLOTTO, M. S. A Síndrome de Burnout e o Trabalho Docente. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, p. 21-29, jan./jun. 2002